A educação psicomotora como estratégia de intervenção pedagógica
Sabemos que vários aspectos inerentes à infância foram por longo tempo desconsiderados pelas instituições infantis, prevalecendo um conjunto de concepções que estigmatizaram a prática educativa considerando-a como uma etapa anterior à fase adulta, buscando desenvolver atividades que pudessem preparar as crianças para o futuro não levando em conta suas necessidades e potencialidades atuais. A própria sociedade, durante séculos, considerou as crianças como adultos em miniatura.Somente no século XVI é que surgiram os primeiros livros de aconselhamento aos pais e depois do século XVII é que o "sentimento de infância" (Ariés) de alguma maneira se instaurou. Os pais começaram a perceber a simplicidade, a docilidade e a alegria das crianças e passaram inclusive a vesti-las diferentemente dos adultos.No século XIX, cientistas vislumbram a possibilidade de estudar a criança buscando compreender seu desenvolvimento e interesses.E hoje, no despontar deste novo século, nós educadores, devemos considerar como condição sine qua non conhecer sobre o desenvolvimento infantil para propiciar às crianças o espaço onde verdadeiramente se desenvolverão, crescerão e aprenderão.Variadas pesquisas sobre o tema têm destacado que ao caráter cognitivo do desenvolvimento infantil devem se agregar os aspectos afetivo, motor e social., compreendendo a criança como um ser completo, isto é, um sujeito que desde os primórdios de sua vida tem necessidades, desejos, capacidade própria que convém ser respeitadas e sobretudo desenvolvidas.Para que a criança alcance este desenvolvimento faz-se necessária a presença "do outro", na mediação deste processo. Esta concepção muito bem apontada por Vygotsky assinala que a criança constrói seu conhecimento e desenvolve habilidades desde o seu nascimento retroalimentando seu mundo interno com o que recebe do mundo externo, numa interação com o adulto a princípio e posteriormente com outras crianças, É essencial que a criança estabeleça com "o outro" relação em diferentes esferas e níveis de atividade humana, no processo de construção de sua personalidade.Não tenho dúvida de que a construção do conhecimento e a expressão de sentimentos se dá por meio da expressividade corporal, que antecede a fala nos primeiros anos de vida e que, a configuração de sua personalidade se sustenta na interação com o outro e com o meio onde se insere.O trabalho corporal no entanto, não tem sido muito enfatizado dentro de nossas escolas, sendo um recurso escassamente utilizado e, quando lançado mão, quase sempre acontece de maneira desvinculada dos conteúdos e objetivos pedagógicos, dentro de uma concepção instrumentalista e racional do corpo. O corpo no entanto, não pode ser considerado simplesmente como um instrumento sendo também fonte de conhecimento, de comunicação, de afeto e de relação.Não há como ignorar o aspecto psicomotor da criança. Através de manifestações corporais ela expressa seus problemas, seus sentimentos, se comunica, , se relaciona, estabelece vínculos e aprende. Portanto em nossa prática educativa devemos levar em consideração este sujeito como uno, indivisível, diferente da concepção dualista do sujeito fragmentada em corpo e mente. Não podemos pensar a educação como simples transmissora de conhecimentos nem tampouco numa prática psicomotora compensatória preenchendo falhas e lacunas, treinando capacidades e habilidades.Segundo Lapierre (1984) A escola é um dos elementos mais importante do ambiente social. Em um sentido mais amplo a educação deve preocupar não só em transmitir conhecimentos, mas com a formação da personalidade nos seus aspectos mais profundos.A escola de educação infantil deve se revelar como espaço de desenvolvimento e aprendizagem e, para se trabalhar este ser em sua globalidade, o recurso fundamental e indispensável não poderia ser outro senão o jogo, pois é brincando que a criança tem a oportunidade de interagir com as pessoas e objetos, explorar seus limites e adquirir repertórios comportamentais/afetivos. A Psicomotricidade se fundamenta na globalidade do ser humano, principalmente na fase da infância que tem seu núcleo de desenvolvimento no corpo e no conhecimento que se produz a partir dele. ( Berruezo y Adelantado, 1995), e ao trabalharmos com o jogo psicomotor estaremos possibilitando à criança brincar , a " mergulhar na vida, podendo ajustar-se às expectativas sociais e familiares" ( Cunha, 1994)A criança em sala de aula, não pode ter apenas o espaço da mesa e da carteira, onde atividades dirigidas delimitam seu gráfico.Na programação educativa há que se conciliar espaço e tempo para a música, teatro, brincadeiras, exploração do corpo, vivências socioculturais, arte, literatura , dentre outras.Pode-se utilizar a psicomotricidade como instrumento educativo, pois ela permite conduzir a criança rumo a sua autonomia e formação de sua personalidade, bem como potencializar o desenvolvimento cognitivo e ajudar na sua socialização e adaptação não só na escola, mas em sua vida.Sob o prisma desses conhecimentos convém repensar a prática psicomotora na Educação Infantil. Sabemos que o ensino se dirige à dimensão intelectual. Isso constitui uma parte da educação, mas não é toda a educação. Segundo A. Lapierre, para que esta se torne completa há que se inserir as dimensões afetiva, emocional, relacional, cujas raízes se situam no universo fantasmático da criança. Em 1993, iniciei numa escola pública infantil de B.H um atendimento em Psicomotricidade. O trabalho ocorreu a partir da demanda das professoras que buscavam ajuda dizendo da grande quantidade de alunos que apresentavam as mais diversificadas condutas, tais como: agressividade, instabilidade emocional ( choro freqüente, apatia), ausência de limites, inibição, dentre outros, ao chegar à escola, permanecendo com estas condutas até mesmo depois do prazo esperado para a adaptação escolar.Estas crianças inadaptadas, naturalmente que apresentavam dificuldades no desenvolvimento cognitivo.Propus um trabalho onde emoções e relações pudessem estar presentes, objetivando a evolução do cognitivo. Comecei o trabalho, privilegiando as atividades lúdicas, isto é, o jogo espontâneo, livre , o jogo psicomotor simbólico. Passou-se a ver a criança como um todo, pois o corpo não é apenas um instrumento racional, a serviço do pensamento consciente, ele é lugar de prazer, de desejos, de afeto, de emoções, de sensibilidade e, a partir desta expressividade corporal a criança pode expressar espontaneamente suas dificuldades relacionais e superá-las.Embora não tenha este trabalho objetivos pedagógicos diretos apresenta uma nítida influência sobre as dificuldades de adaptação no campo social e escolar, uma vez que estas se relacionam diretamente com fatores psico afetivos relacionais.Desta maneira objetiva-se favorecer o desenvolvimento integral da criança a partir da utilização do corpo em movimento, construindo com este um meio globalizador, já que não organiza somente as funções motoras, mas também as do pensamento e do sentimento.A educação psicomotora, passa então a se incorporar no processo educacional escolar.O trabalho foi desenvolvido com as crianças em encontros semanais com duração de aproximadamente uma hora.Também foram propostos alguns encontros teóricos e práticos com as professoras onde estas, jogando com seu corpo, puderam perceber suas dificuldades relacionais, dificuldades estas que muitas vezes se constituíam como barreiras que dificultavam o processo ensino/aprendizagem.Também propus um trabalho com as famílias onde participaram as mães, por considerar que família e escola devem trabalhar juntas em prol das crianças e que a família é um dos fatores geradores de inadaptação dos infantes, sobretudo quando a dinâmica intrafamiliar encontra-se desajustada e desestruturada.Além das professoras vivenciarem momentos de jogos , também se discutiu com elas o que viveram as crianças em suas brincadeiras, ajudando desta forma na prática pedagógica, pois elas puderam aproveitar dos conteúdos surgidos no jogo para aplica- los dentro da sala de aula, por exemplo, trabalhando conceitos matemáticos, cores, desenhos, criação de textos a partir da verbalização dos alunos.Trata-se pois de uma metodologia ativa onde a criança cria e desenvolve situações partindo de suas possibilidades e de suas vivências, por meio do jogo onde se respeita sua espontaneidade permitindo favorecer sua expressividade. A professora, desta forma, adequa o processo ensino aprendizagem à maneira de aprender dos alunos, de acordo com o seu ritmo próprio, partindo do que cada um sabe fazer, da competência individual, oferecendo distintas possibilidades de ação. Esta prática tem sido avaliada mediante observações, discussão de casos, desenhos realizados pelas crianças e toda sua produção pedagógica, bem como relatos dos próprios pais em reuniões periódicas na escola.Ao final do ano letivo pudemos comprovar a importância da Psicomotricidade Relacional na prática educativa, pois percebemos mudanças muito significativas no comportamento das crianças.Reafirmo o papel fundamental da Psicomotricidade como um dos recursos a ser utilizado pela escola, viabilizando um melhor equilíbrio emocional de todos os seus segmentos, além de potencializar o desenvolvimento cognitivo das crianças e sua adaptação social.Acompanhar a criança num processo psicomotor possibilita-lhe vivenciar suas próprias experiências e através dessas poder estruturar de maneira mais adequada sua atividade mental. A ação motora, isto é a ação corporal vivenciada espontaneamente pela criança vai de encontro a uma pedagogia onde se permite o descoberta, a criatividade e onde se desenvolvem relações de confiança consigo mesma e com o outro, restabelecendo seu controle interior e sua auto-estima.
Gleice Kelly de Barros
3o ano de Pedagogia (Turma 1)
Um comentário:
`rezada Kelly,
Voce usou um texto meu, referindo-se inclusive a um trabalho que desenvolvicom vrianças, profesoras e pais em uma escola municipal de Belo Horizonte e não ciotou a fonte, nem a autoria do trabalho.
Favor realizar essa ação.
Grata
Sonia
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